Reportagem especial

75ª Romaria Estadual da Medianeira ocorre neste domingo e também é dedicada à juventude

Pâmela Rubin Matge


Roma, outubro de 2018: "Sejam companheiros de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida. Vocês são o presente, sejam o futuro mais luminoso", trazia a carta lida no término da missa de encerramento do Sínodo dos Bispos dedicada aos jovens, presidida pelo papa Francisco.

Santa Maria, novembro de 2018: "A jovem chamada Maria, Mãe de Jesus" expressa o tema da 75º Romaria Estadual de Nossa Senhora Medianeira, que reúne, em Santa Maria, milhares de peregrinos de todo o Brasil no domingo do dia 11 deste mês.

Nesta edição do evento religioso, o olhar à juventude é celebrado no contexto mundial e, em solo santa-mariense, ainda perpassa os ensinamentos da intercessora e resgata a história de devoção com a cidade.

Vigário-geral da Arquidiocese de Santa Maria e coordenador da romaria, padre Ruben Natal Dotto pontua:

 - Jovens não são o futuro, são os protagonistas do presente. E nossa romaria surge das primeiras devoções vindas de jovens. Impossível não notar a atuação, a força e a coragem deles. No sínodo extraordinário deste ano, reforçou-se tudo isso.

A jovem Maria

Segundo estudiosos, Maria era muito jovem quando recebeu o anúncio do Anjo Gabriel. Teria 14 ou 15 anos, pois era essa a idade em que as jovens eram oferecidas ao casamento na Palestina. Acostumada à oração desde menina, também refletia sobre os mistérios de Deus na história do povo de Israel até receber o comunicado do anjo. 

- Maria, mesmo nova, se dispôs ao plano de Deus. Ela é um modelo para os jovens que têm de ter uma participação contínua e fundamental na Igreja. Jovens trazem um novo vigor, principalmente, neste ano, que é dedicado a eles, com a realização do sínodo e na preparação para mais um Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será sediada no Panamá - enfatiza dom Hélio Rubert, arcebispo metropolitano de Santa Maria.

Devoto da Mãe Medianeira e assessor do Setor Juventude Arquidioscesana, Maique Argenta Ribeiro ressalta:

- O sínodo voltado aos jovens e o tema da Romaria deste ano demonstram uma real necessidade de abrirmos as portas de nossas Igrejas para as juventudes, afinal, elas é que darão continuidade à evangelização do povo de Deus. O sínodo propõe uma mudança de mentalidade e de atitudes. O papa Francisco nos pede para irmos ao encontro do povo, sair mos do nosso comodismo. Precisamos dar esse espaço aos jovens, confiar neles e também orientá-los. E nós, jovens, precisamos assumir o que nos aguarda. É preciso arregaçar as mangas e construir juntos a comunidade. A Romaria Estadual da Medianeira é uma das maiores provas de que a fé modifica a vida das pessoas. É o momento de agradecer por graças alcançadas, de pedir, de rezar, compartilhar com os demais um pouco da nossa história e da nossa pequenez humana.

"ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE AMOR"

Foi partindo das orações atribuídas a São Francisco de Assis que a devoção de Aislan Soares Viçosa, 20 anos, foi estendida a Nossa Senhora Medianeira e às próprias atitudes cotidianas. Durante a infância, ele era levado pelos avós às missas e a outras tarefas da Igreja até que, aos 16 anos, ingressou na Juventude Franciscana (Jufra). Atualmente, auxilia na paróquia Nossa Senhora de Fátima em diversos compromissos e, geralmente, fica em uma das barracas que vendem doces na Romaria da Medianeira.

- Continuo cada vez mais firme nessa religiosidade, em especial, a espiritualidade de São Francisco de Assis, buscando sempre olhar o mundo com mais amor e viver em fraternidade, entre irmãos e irmãs e todas as suas criaturas. A Romaria tem um significado muito importante, bem como disse o padre no último domingo, na Igreja de Fátima: "Devemos ser como os jarros das Bodas de Caná e sempre estar prontos para ser transformados, como Maria foi medianeira e intercedeu a Jesus" - lembra Viçosa.

O jovem reflete sobre o atual cenário do país para justificar sua religiosidade e credita à juventude a esperança de dias melhores.

- O Brasil vive um momento muito delicado de inúmeros atos de intolerância e legitimação da violência. É fundamental o jovem católico estar envolvido e se manifestar. Não podemos aceitar discursos de ódio. Não é coerente eleger políticos que usam de meios de discriminação para chegar a cargos no Executivo e no Legislativo. É essencial olharmos Jesus, que estava sempre ao lado dos oprimidos, e seguir o Evangelho. Isso também é função de uma juventude devota. Sempre recordo a oração atribuída a São Francisco de Assis que diz: " Onde houver ódio, que eu leve amor" - lembra.

"SINTO ALEGRIAS E BÊNÇÃOS POR COMEMORAR MEU NASCIMENTO PERTO OU NO DIA DA ROMARIA"

Aos 22 anos, Luís Arthur Dallabrida (foto maior) é um fiel de Nossa Senhora Medianeira desde criança e um experiente participante da Romaria da Medianeira. O estudante de Direito nasceu em Três Passos, no noroeste do Estado, no dia 13 de novembro, mas, com apenas 3 meses de idade mudou-se para Santa Maria com a família. O primeiro passeio foi na Catedral Metropolitana, local onde todos os anos acolhe os romeiros e ajuda na preparação do café da manhã. Na paróquia, foi batizado e celebrou os sacramentos da eucaristia e da crisma. Em 2013, passou a integrar a Pastoral da Juventude.

- Fui na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, onde comecei a ouvir melhor as palavras do papa Francisco. A partir de então, minha caminhada na Igreja se fortaleceu. Animava as missas com o grupo, refletíamos sobre as juventudes à luz do Evangelho. Em 2016, participei da JMJ em Cracóvia, na Polônia, onde reencontrei o bispo de Roma e, em visita ao Vaticano, participei de uma de suas catequeses.

Atualmente, Dallabrida anima celebrações eucarísticas na Catedral e participa do Curso Popular de Teologia na Paróquia de Fátima. Inclusive, no início do ano, durante o 14º Intereclesial de CEB's, em Londrina (PR), foi um dos delegados da diocese.

Conhecedor da palavras bíblicas, celebra a relação da juventude e da fé ao mencionar que os jovens são sal da terra e luz fazendo a diferença onde quer se encontrem: seja em sala de aula, no trabalho, na família, na sociedade e, por consequência, na Igreja.

Sempre que começa o mês de novembro e a trezena da Medianeira, o jovem é invadido por reminiscências que o transportam ao colégio católico em que estudava, no qual toda manhã, tocava a música "Senhora Medianeira, santa milagrosa, olhai por este povo, de vida dolorosa..."

- Sinto alegrias e bênçãos por comemorar meu nascimento perto ou no dia da Romaria. Me emociono ao ver tantas pessoas simples, com enorme devoção, que se sacrificam para vir a Santa Maria, que passam a noite viajando para rezar e agradecer à Medianeira pelas graças alcançadas, e que choram aos seus pés de tanta emoção - diz. 

FÉ E HISTÓRIA PROPAGADAS PELOS NOVATOS

F oi por um grupo de jovens que cresceu essa devoção. Porque tudo começou com gurizinhos de 13, 14 anos, que, junto do padre Valle, reservaram um aprofundamento teológico a Medianeira. Não tinha nem Igreja. Foram eles, os jovens da Capela do Seminário, os primeiros devotos." 

A referência é do vigário-geral da Arquidiocese de Santa Maria e coordenador da Romaria, padre Ruben Natal Dotto. Ele orgulha-se de ter saído de Silveira Martins, na Quarta Colônia, para estudar e iniciar a vida sacerdotal, aos 12 anos, também no Seminário São José.

A história que entrelaça a Mãe Medianeira à cidade é datada no final dos anos 1920. Antes mesmo de ser ordenado padre, o então fráter Ignácio Rafael Valle, natural de Nova Trento (SC), chegou ao Coração do Rio Grande em 1928. Quando muito novo, havia sofrido uma grave doença e feito uma promessa: tornar conhecida Nossa Senhora e dar a ela o título de Medianeira de Todas as Graças. Em 1929, o papa Pio XI concede à Diocese de Santa Maria o privilégio da Festa de Nossa Senhora Medianeira. É quando o fráter Valle manda vir da Bélgica um "santinho" em preto e branco com a estampa de Medianeira. 

Em 31 de maio de 1930, é celebrada a primeira festa à mãe na Capela do Seminário São José. Na ocasião, foi inaugurado o quadro da Medianeira pintado por Ida Stefani (irmã Angelita). Meses depois, no dia 5 de setembro, 23 mulheres organizaram uma romaria para pedir proteção a Santa Maria, ameaçada de Revolução. No dia 24 de outubro de 1930, a revolução foi encerrada, e nenhuma arma foi disparada na cidade.

Em 14 de setembro do mesmo ano, é realizada a primeira Romaria Diocesana. Em 1942, os bispos gaúchos consagram Nossa Senhora Medianeira como a padroeira do Estado e, em 12 de dezembro de 1943, é realizada a 1ª Romaria Estadual.

RELIGIOSIDADE QUE VEM DOS MAIS JOVENS

Arquidiocese de Santa Maria reúne diversas expressões religiosas juvenis entre movimentos, pastorais e grupos em geral. Nas demais cidades da Arquidiocese, ainda há grupos paroquiais, grupos da pastoral da juventude, grupos da Juventude de Schoenstatt, do Movimento de Cursilhos, da Renovação Carismática e da Juventude de Notre Dame.

Conforme a assessoria do Setor da Juventude da Arquidiocese, não é contabilizado o número de pessoas que integram todas as agremiações no Coração do Rio Grande. Contudo, somente na Jornada Arquidiocesana da Juventude (Jaju), que ocorreu em Tupanciretã, em março deste ano, eram cerca de mil representantes, fora os de grupos de outras cidades.

A atuação das turmas se dá por meio de encontros semanais ou quinzenais onde rezam, estudam documentos, orientações da Igreja, debatem temas pertinentes da sociedade, fortalecem a espiritualidade, além de promoverem ações sociais e promoções para poder manter as suas atividades. Os grupos realizam retiros e formações. Geralmente, há ainda uma missa mensal organizada pelas juventudes nas paróquias, que também auxiliam nas comunidades sendo catequistas, auxiliando nos risotos, jantares, festejos populares e, é claro, na Romaria da Medianeira.

Alguns jovens se organizam para seguir a caminhada junto da Mãe Medianeira vestindo camisetas, com bandeiras em punho. Outros ajudam a carregar a cruz e vivem a romaria com suas famílias ou se encontram com seus grupos. 

O Setor Juventude conta com o apoio do padre Enio José Rigo, coordenador de pastoral da Arquidiocese e entusiasta da fé que emerge dos mais novos.

- A devoção a Medianeira iniciou em Santa Maria com uma centena de jovens, em tempos de apreensão e disputas políticas, crises econômicas e divisões entre os poderes da Velha República. Desde as primeiras romarias, a Igreja escolheu um lema e um tema, a partir do contexto local, regional, nacional e mundial. Pela Medianeira, cremos alcançarmos as graças para que e para quem pedimos. Assim, em 2018, vem à tona o tema da juventude, haja vista, o papa Francisco ter realizado, em Roma, o sínodo com os jovens dos cinco continentes, e o tema: "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional".

MOVIMENTOS

  • Renovação Carismática Católica (RCC)
  • Movimento Universidades Renovadas (MUR) 
  • Movimento de Cursilhos de Cristandade ( MCC). Este também possui o cursilho de jovens: Juventude em Movimento (JEM), e os pré-adolescentes em movimento (Paem)
  • Emaús
  • Juventude Carmelitana (Jucar)
  • Juventude Franciscana (Jufra)
  • Juventude Palotina (JP)
  • Juventude Masculina (Jumas) e Feminina de Schoenstatt (Juvem)
  • Juventude Legião de Maria
  • Juventude de Notre Dame (Jund)
  • Juventude Guaneliana

PASTORAIS

  • Pastoral da Juventude (PJ) - Possui grupos de jovens geralmente nas paróquias, algumas da cidade de Santa Maria, e nas demais cidades que compõem a Arquidiocese
  • Pastoral da Juventude Marista (PJM)
  • Pastoral da Juventude Escolar (PJE)

GRUPOS DE JOVENS PAROQUIAIS

  • Amigos Semeando Paz e Amor (Aspa)
  • Jovens Unidos na Fé (JUF)
  • Jovens da Paróquia da Ressurreição (Hama)
  • Juventude Evangelista (JE)

ENTENDA*

Pastoral da Juventude

É um organismo da Igreja Católica. Sua história começa na década de 1970, trazendo em suas bases a Ação Católica, a Teologia da Libertação, e a Pedagogia do Oprimido do Educador Paulo Freire. No final dos anos 1970 e no início dos anos 1980, a Igreja vivia um período de grandes expectativas, pós 2ª e 3ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, de Medellín e Puebla, respectivamente, que trouxeram novos ares para a ação pastoral com a opção concreta pelos pobres e pelos jovens, ampliando o trabalho para a construção de uma proposta mais orgânica. As dioceses passaram, então, a organizar a evangelização dos jovens em pequenos grupos paroquiais (entre 12 a 25 jovens). Para acompanhar melhor a organização, articularam-se de encontros locais, diocesanos, regionais e nacionais com o propósito de melhorar a comunicação e proporcionar o intercâmbio e a sistematização de experiências.

Setor Juventude

É um espaço de construção coletiva da caminhada de evangelização das juventudes na Arquidiocese, por meio da participação de todos os carismas (expressões juvenis). Surgiu a partir do Documento de Aparecida, e da Comissão Episcopal para a Juventude (CNBB), como o Serviço de Evangelização da Juventude (como é conhecido em nível regional, e local como Setor Juventude).

O documento de estudos da CNBB nº 103, Pastoral Juvenil: Identidade e Horizontes, apresenta, em um dos capítulos, uma importante instância das dioceses: o Setor Juventude. O texto define como "um espaço de comunhão e participação para unir e articular todos os segmentos juvenis diocesanos num trabalho conjunto".

A definição do Setor Juventude diz que ele não é mais um grupo jovem, mas àquele que reúne todos os grupos: "É o espaço que articula, convoca e propõe orientações para a evangelização respeitando o protagonismo juvenil, a diversidade dos carismas, a organização e a espiritualidade para a unidade das metas.

 Assim, é missão do Setor Juventude da Diocese realizar atividades a todos os seguimentos juvenis e evangelizar toda a juventude.

*Informações segundo os assessores do Setor Juventude Arquidiocesano Maique Argenta Ribeiro e Jéssica Eduarda Lorenzi Reza

REPORTAGEM

Produção e textos - Pâmela Rubin Matge

Fotos - Charles Guerra e Gabriel Hesbaert

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